sexta-feira, 16 de outubro de 2009

" A clareira era escura, mas a fogueira ao centro iluminava os arredores, até mesmo uma parte minha. Eu estava um pouco além dos limites da clareira, encoberto pela metade na escuridão das árvores e dos arbustos, mas com minha visão privilegiada do que acontecia naquela noite.
Ao centro, existia a fogueira. Mas, não era uma simples fogueira. Era uma enorme Salamandra invocada por conhecedores da Grande Arte excepcionais que eu também conhecia. O fogo brilhava, lambia o ar e iluminava a noite tanto quanto aquela lua cheia no alto. As faíscas douradas e vermelhas saiam e voavam, e o fogo parecia ser feito de falanges que não queimavam aos dançarinos em volta. Todos dançavam alegremente ao som de batidas, palmas e vozes. Vestidos lindos, coloridos, cabelos trançados com fitas coloridas e ervas, flores coloridas e de diversos tipos e tamanhos enfeitavam as mulheres que rodeavam a Grande Salamandra. Os mais velhos entre nós também estavam ali, observando aquele pequeno Ritual dedivado a Grande Mãe.
Eu sentia uma alegria contagiante, uma magia intensa. Mas, dentre todos ali, eu reconheci uma em especial. Minerva, uma bruxa que era tão linda a luz do luar, tão fervorosa e devota. Seus cabelos mesclavam de vermelho para negro a luz daquele luar, e minha visão não estava favorecida. Dançava elegantemente, mesmo que eu não conseguisse definir como eram suas vestes, devido aos movimentos rápidos e fortes.
Dançava com fervor, com alegria e prazer, e emanava uma aura forte e bela. Uma bruxa como poucas, ligada a terra e aos ensinamentos da Grande Mãe, muito pouco conhecidos já naquela época. Uma época perigosa para nós, seguidores da Grande Arte. Era preciso se esconder do perigo que crescia no medo.
Olhei para o lado e vi uma figura emcapuzada chegando mais perto da clareira, mas sem se revelar. Reconheci a figura de imediato, claro. Era meu irmão. Um irmão não só de sangue, como de alma. Mesmo que nossos cabelos fossem de cores diferentes. Os meus compridos, lisos e de um loiro claro, e os dele de um negror forte como a noite. Ele observou-me por uns momentos, e me cumprimentou silenciosamente, com apenas o olhar. Ele era muito reservado, mas não estava surpreso de ter saído da montanha em que vivia para ver Minerva dançar. Ele a amava tanto por dançar. Amava-a como amava a própria Deusa. Voltei a observar por mais alguns momentos Minerva dançando ao redor da fogueira e retornei meu olhar para meu irmão.
Oryon simplesmente lançou-me mais um olhar e partiu pela escuridão, seguindo a trilha pela floresta de onde tinha vindo, subindo mais a frente pela montanha onde vivia, voltando a sua vida com a Deusa, seus rituais e suas dedicações para com a Mãe.
Eu voltei a olhar todo aquele explendor. E a fogueira brilhante foi a ultima coisa que vi."

Resolvi descrever uma das primeiras cenas que vi quando comecei a relembrar meu passado como outra pessoa, com outro nome. Li recentemente um blog muito curioso e alegrei-me com alguns posts que li ali. E, por um acaso, lembrei-me desta cena ao luar. Agradeço ao http://www.fantasmasperdidos.blogspot.com/ por me deixar relembrar tal cena. Ela foi muito importante para mim e para meu Mestre, e é até hoje. É uma lembrança não tão vívida, mas que marcou-me por ter sido, possivelmente, a última vez que vi Minerva e Oryon naquela vida. A Inquisição não perdoava quem não era fiel a Igreja. E ainda não perdoa, como todos já bem sabem. Fico feliz de saber que, mesmo depois de tantos séculos, eu ainda os tenho comigo, nesta vida. E é sempre bom relembrar que, quando aprendemos a amar nossa Grande Mãe, ela nunca deixa de nos amar.
Mais uma vez, obrigado ao http://www.fantasmasperdidos.blogspot.com/ por me proporcionar essa nostalgia. Estava precisando. E obrigado pelo selo! :P


Um comentário:

  1. Somos nostalgia.
    Nostalgia todo dia.
    Todo dia a nostalgia de sermos.
    Ah... deja vu.

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