domingo, 8 de novembro de 2009

"- Está na hora. - o produtor saia do camarim apressado, esperando que eu o seguisse.
Continuei sentada. Não que estivesse nervosa, já havia feito outros shows como aquele. Mas, era sempre a mesma coisa antes de qualquer show. Eu precisava me preparar para receber e dar tudo aquilo que eu poderia aguentar. Quando levantei, senti uma onda de espasmos se espalhar pelo meu corpo desde meus pés. Aquela onda de espasmos me era bem conhecida. Mas eu nunca estava preparada para sentir esse primeiro sinal de que eu já estava entrando no meu "estado de transe".
Enquanto caminhava, eu podia escutar a multidão gritando meu nome, em frenesi. Escutava também sussurros e palavras estranhas que eu não sabia discernir, e algumas eu até conseguia. Eu só as escutava quando estava entrando em meu "estado de transe". Segundo sintoma.
Passei pelo backstage, peguei um objeto que eu deveria acoplar a câmera quando passasse. Levei um choque ao tocá-lo, mas ignorei e continuei a seguir. Cada passada que eu dava estremecia meu mundo e minha visão, como se eu fosse algo muito maior do que eu pensava.
Cheguei a câmera e pus o objeto, acoplando-o a lente. E entrei no palco.

Eu estava definitivamente transcendendo. Eu via uma multidão gritando e sussurrando ao mesmo tempo. Pulando e parada ao mesmo tempo. Viva e morta ao mesmo tempo. Eu via o triplo, quadruplo de pessoas que estavam ali. Isso se eram mesmo pessoas. Eu via criaturas que eu nunca havia visto. E sentia que meus olhos dilatavam, cresciam e enxergavam muito mais do que deveriam.
Caminhei até o microfone e segurei-o entre as mãos, sem a base. Estava tudo escuro, mas os flashes que viam da multidão me deixavam ver em partes tudo ao meu redor. Esperei a banda se localizar nos instrumentos e esperei o que eu sabia ser o estopim para meu transe iniciar.
Senti o calafrio na espinha quando o baixo arranhou e logo depois, senti que todas as mulheres que existiam dentro de mim, que lutavam umas com as outras por uma opinião diferente juntavam-se em uma, e eu sentia que eu mudava. Olhei para a multidão, ciente de que eu era outra pessoa, e não a mesma. E sorri. Agora sim tudo estava fazendo sentido e tudo que eu dizia era lei.
As pessoas e criaturas que ali me davam poder. Me transmitiam algo que eu não sabia o que era. Devia ser pura energia, não sei. Só sei que ela entrava em mim de todos os lados e com força impressionante e me fazia subir, flutuar. Era como se a energia que passava por mim subia aos céus e quisesse me levar junto, mas que eu devesse ficar ali e ser uma passagem para isso.
Então a música começou, e eu me elevei. Sentia como se pudesse sair do chão e voar. Me sentia uma gigante. Uma Deusa. E agora, tudo o que eu dizia fazia sentido para mim. Eu entoava o hino que aqueles seres a minha frente idolatravam, repetiam e se permitiam entender o que podiam. Mas, só para mim aquelas palavras e gritos faziam sentido completo.
Só ali, eu entendia realmente o que eu estava dizendo, pensando e sentindo."


-Inspirado em Pitty - {Des} Concerto Ao Vivo 06-07-07

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